terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Forma elíptica do grão de café inspira desenho

A arquitetura do Octavio Café é uma exceção em meio às construções mais elevadas na avenida Faria Lima
Forma elíptica do grão de café inspira desenho
Implantado na avenida Faria Lima, em trecho que se localiza no bairro do Itaim Bibi, zona sul de São Paulo, o Octavio Café foi projetado pelo escritório Seragini Farné Guardado. Loja-conceito da empresa que almeja transformar-se em marca mundial e criar uma rede de cafés, a edificação procura reproduzir em macroescala, na fachada e no salão, a forma da semente de onde se extrai a bebida.
No período em que morou e trabalhou na França, Alfredo Farné freqüentava, em Paris, um café projetado pelo também designer Philippe Starck. Apesar da aparente simplicidade, conta Farné, havia no ambiente um encanto para o qual ele nãoencontrava explicação racional. Mezanino nas laterais mais longas, uma série de espelhos nas paredes e, ao fundo do salão, uma mesa em plano ligeiramente mais alto. A cortina junto à entrada preservava o ambiente e, simultaneamente, incitava a curiosidade dos transeuntes.
Ao mesmo tempo que relata a história, Farné esboça o desenho da planta do café francês e explica que Starck recorrera a formas análogas às de uma igreja tradicional, trabalhando a imagem do sagradoimpregnada no inconsciente da maior parte das pessoas. E especula que talvez viesse daí a explicação para o fascínio. Nem de longe a configuração do paulistano Octavio Café lembra um templo religioso, mas a tentativa de cativar os sentidos a partir da ambientação está presente.
Lâminas de madeira fixadas na estrutura metálica definem o desenho do café, na face voltada para a avenida
A criação da marca antecedeu a arquitetura. Ambas têm como ponto de partida a semente da planta da qual se extrai o café
Salão principal do café/restaurante. O balcão do bar é o coração do ambiente
desenho da principal face externa, com lâminas de madeira entrelaçadas a perfis metálicos, assemelha-se ao de um jacá - cesto feito de taquara e cipó, para transportar carga. Essa imagem inusitada - uma referência rural na mais cosmopolita das cidades brasileiras - faz com que a construção se sobressaia, mesmo cercada por prédios de maior porte. O Octavio Café é a primeira experiência do escritório Seragini Farné Guardado com a arquitetura em área exterior.
A edificação paulistana é formada por dois blocos. No primeiro, com pé-direito duplo, localiza-se o salão com formato semelhante a um grão de café, e nele o balcão do bar, espaço considerado o coração do ambiente. No salão, a estrutura metálica mescla-se com vidro e madeira. No segundo bloco - que Farné chama de apêndice -, os materiais utilizados foram concreto e alvenaria, e é ali que se situam as áreas técnicas, cozinha e escritórios. A entrada principal é marcada por um pórtico, encimado pelo nome Octavio. À noite, a iluminação destaca o invólucro de madeira e vidro.
Internamente, a ambientação foi trabalhada comtons que remetem aos dos grãos de café em diferentes fases do seu ciclo de vida. O piso de peroba-rosa de demolição faz referência às sedes das fazendas cafeicultoras. Na lateral do primeiro bloco, uma rampa de inclinação suave envolve praticamente todo o lado do edifício e leva ao pavimento superior. À medida que a rampa é percorrida, sensores fazem acender-se frases que mostram a ascensão da cultura do café.
Detalhe do balcão do bar
Após a escada, sensores fazem acender-se frases sobre o universo do café, toque tecnológico que tem o dedo do designer Marcelo Dantas
De início, explica Farné, pretendia-se que essa história fosse retratada com a ajuda de painéis fotográficos. O designer Marcelo Dantas preferiu, no entanto, um suporte mais tecnológico e criou a rampa do conhecimento, com frases sobre o universo cafeeiro. De uma forma ou de outra, para compreendê-lo é obrigatório interromper a caminhada a cada momento. Uma via-sacra? Talvez esteja aí a intenção subliminar do projeto.
O envolvimento do estúdio com a proposta iniciou-se partir de um tipo de trabalho pelo qual é mais conhecido: o desenho da nova marca do café Octavio, que é produzido na fazenda Nossa Senhora Aparecida, em Pedregulho, interior de São Paulo. A cafeicultura é um dos negócios do empresário Orestes Quércia. O logotipo assemelhou a inicial do prenome do pai do ex-governador à forma da semente do café.
A nova marca é parte da estratégia da empresa, que tem a intenção de internacionalizar-se e abrir uma rede de cafés. A loja-conceito da Faria Lima é o pontapé inicial dessa trajetória. “Ao contrário do que se possa supor, o nome Octavio foi proposto pela Seragini, e não pelo ex-governador”, esclarece Farné.

À esquerda do acesso fica o lounge, também em forma elíptica
Acesso ao segundo pavimento, onde estão localizados o escritório e as salas de treinamento e de reuniões
A sala de reuniões fica no bloco em alvenaria, na parte dos fundos do terreno
A ambientação foi trabalhada com tons que remetem ao grão
da planta em diferentes fases do seu ciclo de vida


Fonte: Arco Web

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